quarta-feira, 14 de abril de 2010

O Colecionador- A Carta


"Simplesmente não me é possível crer que, dadas as tuas correntes faculdades psicológicas, possas ter criado tão impensada decisão. Não se trata de uma queixa minha, apenas. Outros foram por ela tragados de tal modo que disso tudo não poderão sair ilesos, nem mesmo você. Pensei por dias a fio e nada consegui alcançar e que pudesse, ao mesmo tempo, dar um sigificado plausível a tudo isso e deixa-lo em situação confortável- como ambos sabemos que o fora até agora. Tal falta de sentido tem por efeito romper com meu interior, desmorono ante meus atuais pensamentos. Estou na mesma situação em que se achavam as metafísicas precedentes à de Kant; vazia e prestes a ruir. Se me assemelho com elas, você certamente lembra ele; frio e com um (seu) propósito inabalável lançará sua crítica por sobre todo o mundo. Nem o palácio mais fétido nem a privada que provê o mais suave deleite lhe escapam. Nada posso negar, mas disso não se segue que possa, contrariamete, afirmar em absoluto. Apenas exponho o esboço de uma contrariedade, um reclame explícito e que sabe-se desde já como calado. MAs se o "reclame" mostra-se já calado, certamente que as ações reagirão em sentido contrário; com veemência lutarei por deixar isso que agora soa obscuro e pouco coerente, em algo astutamente tramado e envolvente, que se não trará a verdade certamente o fará com relação aos mais variados partidários. Nossa relação aniquilou-se quando, daquele dia em que lhe entreguei o que de mais valioso havia em mim, tomou justamente a decisão mais difícil- a errada. Não posso aceitar sem sangrar que, quando volto minhas costas para sua face, possas sorrir, respirar ou, o qu é pior, vivem noramalmente. Não sou e nunca fui um vácuo em sua passagem, não sou fenômeno efêmero, mas antes a permanência intransigente daquele que busca de todos os modos completar-se. Tinha tão fixo tal propósito que estava disposta a dissolver-me, a mim e ao mundo, nesse arrebatamento irrenunciável. Mas, por mais que isso pareça louco e sem propósito, sempre manterei meu queixo em um ângulo que lhe permita a mais clara visão da arrogância. Sentir-se fraco não é o mesmo como agir feito um; à última lágrima pode seguir-se o último golpe."

3 comentários:

  1. Rapaz, agora com a distinção noumenon x phenomena tu vai longe! Parabéns pela criatividade, que parece uma forma pura de tuas apresentações como fenômeno nesse mundo da vida hdashdhas. Abração!

    ResponderExcluir
  2. Demorei a ler e comentar "O Colecionador" e sua continuação, "A Carta". Pois já digo que é algo que DEVE ter uma continuação, um desfecho. Pois fiquei ansioso por saber o que acontece quando um colecionador de memórias encontra algo dessa natureza - aliás, se acontece. Mas é da natureza da narrativa recortar apenas aquilo que possui relevância, então, suponho que aquele prosaico colecionador de lixo não passe indiferente à esta carta. Ou não. De qualquer forma, reitero que espero ansiosamente a continuação. Do cvidanja!

    ResponderExcluir